quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Câmbio automático em veículos pesados: uma boa opção para melhorar a produtividade

Velhos estereótipos associando caminhões e uma condução muito difícil estão em vias de se tornar menos presentes. Se antes predominava a extrema rusticidade em modelos lendários como o Scania "jacaré", hoje há um nível de sofisticação mais apurado nos modelos de concepção mais recente, e alguns já oferecem equipamentos que os colocam no mesmo nível de conforto de um bom sedan de luxo.
O que alguns ignorantes classificariam como "frescura", como controles de tração e estabilidade, freios a com ABS, suspensão a ar e faróis de xenônio tem apresentado resultados significativos no tocante à segurança, mas não pode-se esquecer do conforto: ar condicionado (ou mesmo um simples climatizador evaporativo) e uma melhor ergonomia do cockpit proporcionam uma significativa redução do desgaste físico do operador, fazendo com que se mantenha um maior nível de atenção às condições da estrada, favorecendo as práticas de direção defensiva.

Outro equipamento que agrega significativas vantagens ao conforto é o câmbio automático e, apesar de alguns preconceitos relacionados à manutenção vem se mostrando bastante adequado aos mais distintos cenários operacionais. Ainda que provoque alterações no consumo de combustível (atenuadas com novos desenvolvimentos em sistemas de gerenciamento, terrain response e bloqueio do conversor de torque), tem intervalos de manutenção mais espaçados e com procedimentos de menor complexidade. Ao invés de usar uma embreagem convencional, que torna necessário remover o câmbio para trocar o disco (material de atrito), rolamento e em alguns casos até o platô, o acoplamento de um câmbio automático ao motor normalmente é feito por meio de um conversor de torque hidráulico, cuja substituição do fluido (ATF - Automatic Transmission Fluid) é muito mais rápida, o que também representa um custo menor de mão-de-obra. Convém lembrar que o acoplamento hidráulico apresenta uma maior precisão, favorecendo a operação em ambiente urbano com tráfego intenso associado a uma maior frequência nas mudanças de marcha e regiões com topografia mais irregular que exijam um melhor gerenciamento do torque. Tal fator levou a uma significativa aceitação do câmbio automático também em ônibus urbanos.
É interessante destacar o caso dos ônibus articulados: recentemente o câmbio automático passou a ser obrigatório em todos os chassis produzidos para esse tipo de veículo. Convém recordar que o melhor gerenciamento do torque promove um menor desgaste mecânico.

Um segmento que seria particularmente beneficiado pela aplicação do câmbio automático em veículos pesados é o de veículos de emergência, como viaturas de bombeiros: eliminando o risco de algum eventual erro do condutor durante mudanças de marcha em deslocamento emergencial, ganha-se em agilidade na resposta aos chamados. Os menores e mais espaçados intervalos de manutenção também devem ser recordados, visto que a viatura permanece em condições operacionais por mais tempo.

Em operações rodoviárias, tem despontado uma alternativa de custo inicial mais baixo, que conjuga algumas vantagens do câmbio automático a uma menor complexidade técnica, os câmbios automatizados, ou AMT (Automated-Manual Transmission). Baseadas em câmbios manuais convencionais, incorporam acionamento automático da embreagem e atuadores elétricos (ou eletro-hidráulicos) para efetuar as trocas de marcha automaticamente de acordo com as condições de velocidade, topografia, terreno e carga interpretadas por um módulo eletrônico ou manualmente conforme o operador. No modo automático, por trocar as marchas sempre "no tempo", promove uma redução no consumo de combustível em comparação com modelos equipados com câmbio manual convencional, além de limitar o uso da embreagem às paradas e arrancadas. Alguns caminhoneiros ainda tem o costume de trocar as marchas "no tempo" sem o uso da embreagem, mas tal técnica só deve ser aplicada a câmbios não-sincronizados (como os que servem de base para os automatizados), mas atualmente predominam os sincronizados, que apesar da maior precisão no engate das marchas sofrem desgaste mais acentuado. Portanto, além do prolongamento da vida útil do conjunto de embreagem e redução nas médias de consumo de combustível, ainda ocorre um incremento na durabilidade do próprio câmbio e o custo de eventuais reparos é menor.
Um caso curioso é o da Scania, uma das pioneiras a oferecer câmbios automatizados, que na primeira geração do sistema Opticruise manteve o pedal de embreagem para o uso em arrancadas, paradas e controle fino de manobras, o que sempre me causou estranheza. Apesar de manter tal incoerência nos modelos direcionados a aplicações fora-de-estrada no mercado brasileiro, as versões rodoviárias mais recentes dispensam totalmente o pedal de embreagem. Cabe mencionar um fato que ocorreu comigo a pouco mais de 5 anos atrás, quando um motorista da Empresa Santo Anjo da Guarda me disse que é possível ir de Florianópolis a Porto Alegre ao volante de um Marcopolo Paradiso G6 1550LD montado sobre chassi Scania K124 Opticruise sem usar os pés...

Por mais que alguns operadores e, principalmente, gestores de frotas vejam o câmbio automático como supérfluo, as vantagens operacionais proporcionam vantagens cada vez mais incontestáveis no tocante à rentabilidade...

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