segunda-feira, 8 de novembro de 2021

5 possíveis motivos para motor e tração traseiros terem se tornado características demasiado especializadas

Uma configuração que hoje no Brasil está restrita basicamente a esportivos importados como o Porsche 911, mas que num dado momento foi uma verdadeira revolução e abriu portas para a "europeização" de um mercado mais acostumado a "banheiras" americanas com a Volkswagen na época do Fusca, o motor traseiro ainda encontra quem o defenda ferrenhamente em que pesem algumas características não muito "à prova de burro" em comparação às gerações de carros generalistas com motor e tração dianteiros. No imaginário popular brasileiro, é até inevitável uma comparação entre a modernidade que as sucessivas gerações do Porsche 911 foram incorporando sem abrir mão do motor traseiro com tração ou somente traseira ou integral de acordo com as versões, e a ausência de um carro popular como foi o Fusca e que mesmo somente com tração simples tinha uma aptidão para trafegar por terrenos severos em diferentes condições de carga que acaba sendo mais difícil de encontrar em compactos atuais. Uma série de razões pode explicar a dificuldade para atender à eventual preferência de alguns motoristas por motor e tração traseiros num segmento generalista, podendo-se destacar facilmente ao menos 5 motivos:
1 - configurações de suspensão: tomando por referência tanto o Fusca quanto o modelo brasileiro do Fiat Uno, que tinham motor e tração em lados opostos, até teria sido possível usar eixo dianteiro rígido no Fusca como em algumas gambiarras adaptações feitas nos Estados Unidos à moda dos hot-rods, mas a princípio injustificáveis sob um ponto de vista estritamente técnico. Já para o eixo de tração, podendo ser tanto o traseiro no caso do Fusca quanto dianteiro no caso do Uno, a configuração de transeixo com a suspensão independente favorece uma instalação mais compacta e leve. Ironicamente, no caso do Uno brasileiro, ter mantido a mesma suspensão traseira independente com feixe de molas transversal que era usada no Fiat 147 levava a uma instalação mais intrusiva e que dificultaria alojar o pneu sobressalente abaixo do bagageiro como no congênere europeu que incorporava suspensão traseira por eixo de torção, padrão que viria a se tornar comum na categoria entre outros motivos por ser mais barato de produzir;
2 - fluxos de ar para admissão e refrigeração: no tocante à captação, tende a ser mais fácil aproveitar a posição do motor dianteiro para evitar o custo de soluções aerodinâmicas mais sofisticadas que viriam a compensar as alterações que o fluxo de ar de impacto sofre em diferentes zonas da carroceria durante o deslocamento do veículo;
3 - acesso ao compartimento de bagagens: sem alguma protuberância invadindo o espaço destinado à acomodação de bagagens ou eventuais cargas, a abertura da tampa do porta-malas pode ter o vão maior em modelos de motor dianteiro, facilitando acondicionar materiais volumosos. Mesmo podendo alegar que um motor traseiro em alguma configuração que permitisse instalação relativamente compacta como um boxer de 2 cilindros viabilizaria ter 2 bagageiros, é difícil negar que um compartimento único que tenha na prática o mesmo volume de 2 menores e seja facilmente acessível também por dentro do habitáculo faz bastante sentido;
4 - acesso do motor em derivações de uma mesma plataforma: um caso que me chama a atenção é a preferência por sedans em alguns mercados, como a Turquia para onde a Renault desenvolveu a partir do Clio II o primeiro Symbol, que no Brasil ficou conhecido simplesmente como Clio Sedan. Com as distâncias entre-eixos discrepantes entre os lados esquerdo e direito em função da posição das barras de torção da suspensão traseira independente, mas idênticas às observadas no hatch, o balanço traseiro notavelmente mais longo poderia comprometer a ergonomia no acesso ao motor, algo que deixa de ser uma preocupação tendo em vista que com o motor dianteiro o acesso é rigorosamente idêntico sem distinção pelo tipo de carroceria;
5 - economia de escala com plataformas e componentes off-the-shelf: condição bem observada em modelos especificamente destinados a países "emergentes" ou até periféricos, caso Renault Clio Sedan e também do Chevrolet Celta que era basicamente uma simplificação do Opel Corsa B, acaba sendo até previsível que a consolidação de uma configuração de motor e tração dianteiros aparentemente mais favorável às condições de rodagem de grandes centros europeus ocidentais e rodovias bem conservadas se mantenha para evitar alterações eventualmente onerosas para adaptar alguns componentes e sistemas para que pudessem atender satisfatoriamente a um hipotético uso com motor e tração traseiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comente apenas em Português ou em Espanhol.

Please, comment only in Portuguese or Spanish.
In doubt, check your comments with the Google Translate.

Since July 13th, 2011, comments in other languages won't be published.