sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Motos trail de pequena cilindrada: fazem mais sentido do que possa parecer à primeira vista

De modelos que faziam um bom volume de vendas como a Yamaha XTZ 125 até raridades como uma Suzuki XF650 Freewind, o mercado motociclístico brasileiro apresenta uma receptividade para motos de uso misto, desde uma trail mais ortodoxa até modelos mais otimizados para circular pelos trechos pavimentados sem abrir mão de um curso de suspensão razoavelmente longo e boa altura livre do solo. Além de atender mais satisfatoriamente a condições nem sempre ideais da malha viária até mesmo em áreas urbanas, a posição de pilotagem mais ereta e sem exigir que as pernas fiquem tão dobradas é uma vantagem no tocante ao conforto para pilotos mais altos. Naturalmente a aerodinâmica fica sacrificada a ponto de uma trail ser eventualmente considerada desconfortável em altas velocidades pelo impacto do vento sobre o corpo do piloto, enquanto algumas ditas "bigtrail" mais otimizadas para a estrada podem apresentar parabrisas e semicarenagens que melhoram esse aspecto.
Diferentes estratégias adotadas por fabricantes ou importadores também devem ser levadas em conta, e no caso da Freewind a dificuldade para avistar um exemplar remanescente pode ser explicada até mais por eventuais erros da empresa J. Toledo que representa as motos Suzuki no Brasil que pelo mercado ter sido ainda mais consolidado em torno de faixas de cilindrada modestas em outros momentos históricos, embora seja inegável que um preço mais comedido associado às motorizações menores é fundamental para fazer volume de vendas como no caso da Honda Bros 160. A imagem da marca conta muito, e no caso da Suzuki vale lembrar que costuma ser mais associada no imaginário popular às superesportivas, enquanto para a Honda a imagem mais consolidada de fabricante generalista pressupõe a oportunidade de aproveitar a economia de escala nos subsegmentos de entrada. O simples fato de uma percepção em torno de uma quantidade maior de cilindros auferir prestígio nas faixas de média a alta cilindrada, com a exceção de alguns modelos de uso misto para os quais os regimes de rotação um tanto conservadores com o pico de torque alcançado mais cedo num motor de somente 1 cilindro fica mais de acordo com as pretensões do segmento, também leva a um contraste com a predominância absoluta dessa configuração nos modelos menores.
Tratando especificamente da Honda Bros, usar o mesmo motor da Honda CG (atualmente 160) já leva a crer justificar uma analogia com a moda de SUVs crossover derivados de automóveis generalistas junto a um público mais urbanizado, ou mesmo com o Fusca cuja aptidão a condições de rodagem severas foi um dos motivos que tornaram a Volkswagen tão influente no mercado automobilístico brasileiro quanto hoje a Honda se mantém entre as motos. Em que pese a forma como a evolução tecnológica alcançou o mercado motociclístico com a chegada da injeção eletrônica e a presença da tecnologia flexfuel, que se tornou especialmente relevante naquelas faixas de cilindrada mais modestas em função de perfis de uso mais pragmáticos no dia-a-dia, até a persistência da refrigeração a ar nesse caso é digna de nota porque um único cilindro na Bros é mais fácil de expor a um fluxo de ar que expor os 4 cilindros em um motor de Fusca numa proporção adequada para diminuir discrepâncias na temperatura de cada cilindro. Além da viabilidade para buscar consumidores com perfis distintos de uma forma até mais racional do que a observada em alguns modelos da atual geração de SUVs, alçados a uma condição mais prestigiosa que se sobrepõe à efetiva utilidade em condições de rodagem severas, uma definição tradicional das motos trail segue firme e capaz de atender até consumidores mais pragmáticos que fiquem satisfeitos com um motor mais simples.
Mesmo que algumas características anteriormente mais comuns como a permanência de freios a tambor em modelos de entrada hoje sejam incomuns, apesar das eventuais preferências para uso em condições ambientais severas e de motos abaixo de 300cc permanecerem isentas da obrigatoriedade de freios ABS no Brasil permitir acionamento totalmente mecânico a cabo do freio dianteiro ou varão do freio traseiro, as motos trail de pequena cilindrada constituem uma opção bastante racional. Uma configuração que se revela adequada tanto para o uso cotidiano para deslocamentos urbanos quanto para incursões off-road recreativas é desejável tanto para motociclistas experientes quanto novatos, e a versatilidade pode vir a ser um fator determinante até para atrair eventuais interessados em comprar uma moto mas fiquem com o receio de ter poucas oportunidades para pilotar e fazer valer o investimento inicial. Enfim, motos trail de pequena cilindrada podem fazer mais sentido à medida que são analisadas.

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