sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Poderia um motor de 2 cilindros ter caído como uma luva no Corsa?

Culturalmente mais aceitos entre fabricantes de motocicletas sediados nos Estados Unidos, destacando a Harley-Davidson que foi alçada a um grande ícone cultural e fortemente associada ao American Way of Life exaltado em produções de Hollywood anteriores à encenação de virtude hoje predominante nos estúdios cinematográficos, os motores de 2 cilindros vem sendo solenemente ignorados por fabricantes de automóveis. Tomando por referência o motor Twin-Cam 88 que equipou a Harley-Davidson Softail Deuce tanto em versões com carburador quanto com injeção eletrônica sequencial, cabe a comparação com o motor de 1.4L e 4 cilindros que chegou a ser usado em algumas versões do Corsa vendido como Chevrolet no Brasil e como Opel na Europa, Ásia e África, e até que ponto uma rejeição à configuração de 2 cilindros em aplicações automotivas pode ter custado caro à General Motors no tocante à presença mundial. Apesar do modelo não ter sido comercializado nos Estados Unidos e no Canadá, ainda seria o caso de atribuir uma influência americana no tocante à percepção da quantidade de cilindros como fator de prestígio, a ponto de no Brasil ter sido desenvolvida uma versão de 1.0L do motor com 4 cilindros.
Em que pese a equivocada atribuição de benefícios fiscais com base na faixa de cilindrada ter motivado essa estratégia no Brasil de uma forma relativamente imediatista, e um motor de 1.2L e 4 cilindros foi o menor oferecido na Europa até a chegada do 1.0 de 3 cilindros por lá em '97, é inevitável especular até que ponto um motor ainda mais rústico e "à prova de burro" poderia ter favorecido a GM na tomada de um mercado mais expressivo mundo afora, num contraste aparentemente improvável à hegemonia que os japoneses conquistavam. A bem da verdade, lembrando como o motor Chevrolet com 6 cilindros em linha da 3ª geração e alguns derivados com 4 cilindros foram especialmente relevantes fora dos Estados Unidos até princípios da década de '90, favorecidos por uma simplicidade técnica e a relativa facilidade para adaptar a modelos de outras divisões da GM eventualmente reposicionados como Chevrolet devido a condições de cada região, chega a ser até certo ponto surpreendente que se tenha deixado de lado uma oportunidade para desenvolver versões de 2 cilindros, partindo do mesmo princípio que uma redução de 6 para 4 cilindros já tinha sido efetuada com poucas alterações no ferramental de fábricas de motores do grupo. Vale lembrar que o Corsa chegou a ser exportado do Brasil para a África do Sul em regime CKD para a montagem local, onde era vendido como Opel, incluindo o motor tendo em vista que a fábrica de motores sul-africana da GM havia sido encerrada em '82, e por questões de economia de escala dedicou maiores esforços à produção do motor de 6 cilindros e diversas variações do 153 com 4 cilindros, que a bem da verdade poderiam ter sido complementadas por ao menos uma configuração de 2 cilindros mais adequada a versões austeras do Corsa.


Quando se fala em motores "à prova de burro", uma das primeiras referências que vêm à mente de uma parte considerável do público tanto no Brasil e no México é o Volkswagen boxer com 4 cilindros que se notabilizou com o Fusca, graças à refrigeração a ar e outras características como a sincronização só por engrenagens para o comando de válvulas, embora o motor Opel Família 1 usado no Corsa tenha tomado esse lugar na atualidade. Por mais que a sincronização do comando de válvulas por correia dentada seja um ponto que acaba requerendo mais atenção, e a refrigeração líquida também requeira o uso de fluidos de boa qualidade ao invés de só ir completando com água da torneira, o Fusca só teve um concorrente à altura no México com a chegada do Corsa lá em '93 ainda importado da Espanha, o que poderia inibir o interesse por um aparente downgrade caso as versões de produção local tivessem recebido um motor de 2 cilindros que poderia aproveitar o ferramental de produção das versões estacionárias/industriais entre 2.8L e 3.0L do motor 153 que se mantinham em produção por lá ao invés de ter recebido motores feitos no Brasil. Naturalmente um modelo que tinha proposta relativamente austera poderia ter se beneficiado por um motor mais rústico em comparação ao usado na Europa, além do mais considerando que poderia ser mais fácil aproveitar ferramentais já instalados nas fábricas latino-americanas e africanas.

Considerando ainda a versão pick-up que foi desenvolvida no Brasil, e também destinada à exportação para países tão diversos quanto o México, a África do Sul e até mesmo a Síria, um motor mais "à prova de burro" seria ainda mais desejável em função da proposta utilitária, e também vale destacar que para a África do Sul as versões mais básicas usavam motor de 1.4L enquanto no Brasil só se ofereceu o motor de 1.6L nesse modelo. E no caso das versões Diesel destinadas à exportação regional, também convém recordar que a General Motors do Brasil chegou a ter conhecimento das conversões "misto-quente" que eram feitas em motores Chevrolet de 6 cilindros para que passassem a funcionar com óleo diesel, e uma eventual tentativa de replicar e aprimorar esse procedimento dentro da fábrica teria sido mais benéfico à economia de escala ao invés de depender dos motores Isuzu trazidos ao Brasil só para equipar modelos destinados ao exterior. Portanto, mesmo que algumas condições que podiam ter favorecido um uso de motores com 2 cilindros no Corsa pareçam improváveis e tenham sido solenemente ignoradas, a recente popularização dos motores de 3 cilindros no Brasil dá a entender que às vezes menos é mais...

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