segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Fusca e Corsa: uma relação improvável à primeira vista

Num país tão complexo quanto o Brasil, com o mercado automobilístico fortemente influenciado tanto pelos Estados Unidos num primeiro momento quanto pela Europa após a Volkswagen se firmar no país com o sucesso do Fusca, uma série de fatores que iam desde custos até as características das principais cidades e respectivas regiões metropolitanas acabaram ditando uma presença expressiva de automóveis compactos. E apesar do inegável carisma do Fusca, que foi alçado da condição de precursor dos carros "populares" a um ícone histórico e cultural, outros modelos como o Opel Corsa B rebatizado Chevrolet no Brasil e outros países latino-americanos também encontraram uma grande receptividade por parte do público generalista, embora a concorrência mais acirrada a partir da década de '90 por uma oficialização do conceito de "carro popular" delineada entre os mandatos presidenciais de Fernando Collor de Mello e Itamar Franco. Como se uma austeridade predominante entre o consumidor brasileiro ainda não fosse suficiente, a instituição do limite de cilindrada até 1.0L para beneficiar-se de uma alíquota menor do IPI culminou na concentração do mercado de veículos novos no Brasil por volta do ano 2000 num patamar próximo a 70% para hatches "populares", mesmo que fossem oferecidas versões com motores maiores.
Por mais difícil que venha a ser apontar algum modelo específico como efetivo sucessor do Fusca, vale destacar a favor do Corsa a mecânica simples para os padrões da época em que foi produzido tanto para o mercado interno quanto exportação, além do pioneirismo a nível nacional ao dispor no motor de 1.0L da injeção eletrônica. Considerando especificamente uma comparação ao Fusca, que seguia em linha no México quando o Corsa foi lançado por lá em '94 como Chevrolet Chevy ainda importado da Espanha, e no Brasil a chegada também em '94 já com produção nacional acabando por ofuscar o relançamento do Fusca "Itamar" ocorrido no final de '93, também seria o caso de destacar diferentes abordagens com relação à injeção eletrônica introduzida no Fusca mexicano já em '92 em contraste com o Itamar que ainda usava 2 carburadores. Outro aspecto que não dá para esquecer é que o Opel Corsa B até lembra vagamente o Fusca pelo predomínio de formas arredondadas, em que pese a configuração mais austera de estrutura monobloco e motor transversal com tração dianteira incorporada ao Corsa e tornada padrão nos carros compactos a partir da década de '70 permanecendo hegemônica na atualidade, enquanto no Fusca uma configuração bastante avançada para os padrões da década de '30 com o motor traseiro e a suspensão independente nas 4 rodas soava revolucionária mesmo com o chassi separado da carroceria, que ainda predominava entre os calhambeques quando foi originalmente projetado.
Já seria de se esperar que a diferença de idade entre os respectivos projetos e as soluções de engenharia predominantes em cada época tornem improvável uma comparação, assim como o Corsa estar inserido num contexto em que a classificação de veículos por tipos de carroceria e faixas de tamanho ficou mais criteriosa, ao passo que o Fusca podia ser considerado sem exagero uma categoria à parte. Uma série de distorções tanto no mercado brasileiro, e até mais exacerbadas sob a perspectiva mexicana, fomentaram uma improvável competição entre modelos tão diferentes de '94 até '96 no Brasil e até 2003 no México, tomando como referências o lançamento das versões regionais do Opel Corsa B e os encerramentos da produção local do Fusca em caráter definitivo. E no fim das contas, em que pese o pioneirismo no uso da injeção eletrônica no segmento dos "populares" brasileiros ser insuficiente para tratar o Corsa como um modelo tão revolucionário quanto foi um dia o Fusca, além da competitividade mais intensa entre os hatches compactos mundo afora na década de '90 ter efetivamente limitado as probabilidades do Corsa alcançar uma hegemonia semelhante à que o Fusca teve no segmento de entrada em alguns países, é até justificável considerar ambos icônicos de acordo com as respectivas épocas.

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