sábado, 1 de outubro de 2011

É hora de voltar às "carroças" de fibra???

Ainda sob impacto do aumento das alíquotas de IPI para veículos importados, isentando apenas os provenientes de Argentina e México com no mínimo 65% de "conteúdo regional" ou montados no Uruguai independentemente da origem das peças, comentários indignados durante conversas de botequim acabam se juntando a reflexões sobre como o mercado fechado antes de Fernando Collor de Melo assumir a presidência da república das bananas. Responsável pela abertura dos portos em 1990, o hoje senador dizia que por aqui só se fabricavam carroças, e alguns anos depois, em 1998, 6 anos após deixar a presidência, ao comparar o resultado da concorrência com os modelos mais modernos que vinham do exterior disse que a os carros brasileiros deixaram de ser carroças para se tornarem charretes.

Antes que Collor chegasse ao governo, havia uma restrição às importações iniciada em 1976, seguida por um período de grande criatividade na fabricação de veículos artesanais, e a fibra de vidro foi amplamente usada nas carrocerias dos mesmos. Houveram alguns modelos com motor Chevrolet em chassis próprios, principalmente caminhonetes e esportivos (até uma curiosa réplica do Corvette C4 que, devido à indisponibilidade de motores V8 da Chevrolet localmente, adotava um layout mecânico semelhante ao Corvette original de 1953, com motor de 6 cilindros em linha), mas a esmagadora maioria usava o chassi dos Volkswagen de motor boxer refrigerado a ar (ainda que outra minoria usavsse o motor Volkswagen EA-827, popularmente conhecido como AP, montado à frente com tração dianteira).

Mas houve o Gurgel Carajás fugindo a esse sistema e usando um "tubo de torque" para transmitir força do motor Volkswagen a um câmbio de Kombi montado na traseira.
Numa época em que modelos como o Mitsubishi Pajero e o Jeep Cherokee não estavam disponíveis, o utilitário classificado pela Gurgel como "social country" era objeto de desejo de alguns que não se satisfaziam com a brutalidade do Toyota Bandeirante.

Agora com um mercado consolidado e menos isolado dos avanços na indústria automobilística, o mercado brasileiro foi surpreso com uma medida que teoricamente serviria para garantir empregos locais, mas na prática acabou esfriando projetos de investimentos na abertura de novas fábricas. Uma das empresas que estava anunciando a instalação de uma fábrica em território brasileiro é a JAC Motors, que estava com uma política de preços tão agressiva que fez até a Ford diminuir a mordida no bolso margem de lucro em modelos como o Fiesta. Segundo o empresário Sérgio Habib, responsável pela reintrodução da Citroën no mercado brasileiro e atual representante da JAC, não será possível atender ao índice de nacionalização no prazo de 3 anos inicialmente estipulado, prevendo que em 2014 a cidade paulista de Jacareí estaria sediando uma fábrica da empresa chinesa. Realmente, ficaria um tanto difícil fazê-lo por métodos mais convencionais, mas me vem à lembrança a experiência da British Leyland na Venezuela, quando uma versão local do Mini foi produzida usando uma carroceria de fibra de vidro com subchassis de aço que agregavam os conjuntos de suspensão, motor e câmbio fabricados na Inglaterra.

 
Por aqui, a Puma chegou a cogitar seguir esse esquema em parceria com a Daihatsu, fornecendo carrocerias a serem equipadas com o conjunto mecânico do kei-car Mira (que durante os anos 90 foi oferecido como Daihatsu Cuore, usando carrocerias monobloco metálicas convencionais).

Sem dúvidas uma solução pouco ortodoxa a nível de modelos de produção em grande escala, ainda que tenha sido adotada até pela poderosa General Motors com a Chevrolet Lumina APV, equivalente às primeiras gerações de Pontiac Trans Sport e Oldsmobile Silhouette...

Ainda que tenha se retirado do mercado das "soccer-mom vans" em benefício de crossovers como a Captiva Sport que traz do México, a GM ainda usa do expediente da fibra de vidro no Corvette.

Sinceramente, levando em consideração que por aqui o Camaro acaba sendo um modelo de imagem, com mercado mais restrito, não me causaria tanta estranheza vê-lo em uma versão "fibrosa" para o mercado brasileiro, ainda que passasse a adotar soluções técnicas mais simples para atender de forma mais imediata o índice de nacionalização para escapar do aumento absurdo do IPI...
Francamente, eu devo confessar que não acharia ruim um Camaro atual com eixo traseiro rígido, como os modelos clássicos dos anos 60 - no mercado americano, o Mustang, principal rival do Camaro, ainda recorre a esse expediente, por exemplo. O maior problema seria a dificuldade em encontrar algum motor adequado à proposta de esportividade do modelo, considerando que não há mais nenhum carro nacional com motores que não sejam de 4 cilindros, ou seja, nem mesmo um "seis canecos" poderia fazer as honras - ainda que a GM brasileira produza um 2.0 turbo destinado à exportação, que em algumas versões conta até com injeção direta e chega a 260cv e com um torque comparável ao Vortec 4300 que era importado para equipar a Blazer e a S10 nas inesquecíveis versões V6, e considerando que modelos com cilindrada superior a 2.0L já são penalizados com uma alíquita mais alta de IPI tal opção acabaria não sendo tão inadequada... Para quem não abrisse mão de um motorzão V8, talvez tivesse que seguir o expediente usado nas Filipinas, onde o modelo foi montado a partir de kits CKD americanos pela Yutivo entre 1967 e 1969 oficialmente contando apenas com o "4100" na versão adaptada à gasolina de baixa octanagem que antecedeu o 250-S usado no Opala, mas alguns depois receberam motores V8 importados como "peças de reposição" para burlar a tributação local mais alta a modelos com motores de mais de 6 cilindros - entretanto, como o imposto lá era recolhido antes da montagem, logo quando os kits CKD eram desembarcados em Manila, tal truque era mais fácil de aplicar...

Hoje, após anos com um mercado que até tem algum acesso a tecnologias mais avançadas, mesmo que o custo esteja acima do que a maioria da população se dispõe a pagar por um automóvel (alguns por não terem condições, outros por preconceito contra tecnologias mais recentes), fica difícil aceitar a idéia de voltar às gambiarras com motor de Kombi (com todo respeito à "velha senhora")...

4 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Se começarem a fazer esportivos de fibra, logo algum burocrata convence os ministros de que fibra de vidro é usada no Corvette, portanto é artigo de luxo, portanto deve ser sobretaxado.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Se inventarem de sobretaxar a fibra de vidro nós vamos voltar ao tempo das "jardineiras" com carroceria de madeira e folha-de-flandres.

Anônimo disse...

A fibra é infinitamente mais vantajosa que a chapa de aço, varias pecas hoje na industria automotiva mundial, sao feitas de plastico e fibra.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Em algumas situações, a fibra exige um pouco mais de cuidado no manuseio quando há a intenção de conferir resistência estrutural a uma determinada peça, mas realmente é um material que apresenta diversas vantagens no tocante ao peso e estabilidade química.

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