Falar sobre as dificuldades em se praticar a agricultura em algumas localidades do sertão do Nordeste, que sofrem com as secas, já é considerado clichê, ainda que alguns projetos de infra-estrutura que poderiam facilitar a vida dos produtores rurais, como a polêmica transposição do Rio São Francisco (à qual eu sou extremamente favorável), sejam especulados desde a época do Império. Entretanto, não precisa ir tão longe para encontrar locais em que seja possível promover um desenvolvimento econômico e social de forma sustentável com relativa facilidade, até mesmo na periferia dos grandes centros urbanos, sem a necessidade de avançar mata adentro para abrir novas fronteiras agrícolas. A algumas semanas atrás eu fui no município de Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, que tem várias áreas degradadas pela favelização, e precisei ir a um
No caso específico de Porto Alegre, em que as vergonhosas carroças estão em vias de serem finalmente proibidas, não me parece inadequado considerar as oportunidades de geração de emprego e renda com algum programa agroecológico a ser levado a sério. Na região das ilhas há algumas áreas que poderiam perfeitamente ser aproveitadas para a produção de gêneros alimentícios, facilmente absorvida devido ao custo mais competitivo em função da simplificação de processos logísticos por estar incluída diretamente em um grande centro consumidor, além de atender à demanda da própria comunidade. E atualmente é bastante comum alguns dos que se dizem "ecologistas" alegarem que o consumo de alimentos produzidos na própria região, reduzindo o gasto de recursos energéticos com o transporte, é uma medida eficiente para poupar recursos naturais... Levando em conta a escala de produção, não seria difícil promover o uso de métodos orgânicos, biodinâmicos, ou seja lá como inventem de chamar algum sistema semelhante, que acabaria por trazer vantagens na estabilização biológica do solo e melhorias na qualidade do ar, devido à umidade relativa ficar mais equilibrada e diminuir a quantidade de poeira em suspensão, o que inclui o teor de material particulado liberado pelo escapamento de ônibus e caminhões devido à pessima qualidade do que a Petrobras insiste em chamar de óleo diesel, com uma qualidade bastante inferior aos similares americano, europeu, asiático e africano, e infinitamente inferior ao biodiesel e outros combustíveis derivados da biomassa. Também seria válido considerar algumas áreas favelizadas no entorno da Arena do Grêmio, em que se pode às vezes ver até o smog com bastante nitidez ao transitar pela "freeway" e ainda encontra-se uma grande extensão favelizada. Considerando o tamanho dos terrenos, não seria difícil fazer reassentamentos em pequenos prédios de até 4 andares (para não prejudicar o tráfego do Aeroporto Salgado Filho nem da Base Aérea de Canoas) mais espaçados do que são hoje as residências (melhorando a circulação de ar ao redor, evitando o acúmulo de ar viciado e a conseqüente proliferação de mofo e bactérias) usando rampas de inclinação suave ao invés de escadarias para acesso aos pavimentos superiores. Tal medida viria a melhorar a acessibilidade para deficientes físicos sem um comprometimento significativo do custo condominial, acabando com a limitação dos atuais projetos de edifícios populares em só poder ter apartamentos acessíveis no pavimento térreo como acontece em alguns condomínios às margens da Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, e liberando os pavimentos térreos para instalação de pontos comerciais.
Obviamente, além da produção de gêneros alimentícios, seria possível aproveitar algumas áreas para a produção de oleaginosas para fins energéticos, visando por exemplo atender à frota de ônibus urbanos e metropolitanos. E ainda há a possibilidade de consorciar a criação de alguns animais como galinhas à pequena agricultura, que além da exploração comercial da carne acabaria contribuindo com o controle biológico de pragas. Por mais que hoje nem o Rio Grande do Sul, cujo desenvolvimento em outros tempos se deveu à produção de charque e onde a atividade agropastoril ainda tem um importante peso na balança comercial, esteja livre da existência de vegetarianos, incluindo alguns com um fervor quase religioso, o consumo de proteína animal ainda é tratado pela maioria da população quase como um ritual sagrado.
A meu ver, é uma oportunidade que não deve ser deixada de lado pela possibilidade de inserir trabalhadores na economia formal, dificultar a proliferação de doenças devido a condições precárias de moradia, e ainda proporcionar uma redução de danos ambientais provenientes de instalações de esgoto clandestinas que se vê nas atuais favelas. Além do uso de biocombustíveis contribuir para uma estabilização do ciclo de carbono de forma mais efetiva que um combustível fóssil, um projeto habitacional conduzido de forma adequada desde o início, já prevendo um plano de saneamento básico, acaba por reduzir o lançamento de dejetos no Lago Guaíba, favorecendo a estabilidade biológica. O lodo que sobra do processo de tratamento, por exemplo, ao invés de ser simplesmente descartado, é uma boa matéria-prima para a produção de fertilizante orgânico, vindo a atender bem ao interesse pelo reestabelecimento de um "green belt" portoalegrense...
Eu não sou tão entusiasmado por combustíveis gasosos devido à impossibilidade de fazê-los operar puros em motores de ignição por compressão (ciclo Diesel) e pelo manejo mais complicado que o de um combustível líquido, mas ao se considerar o gás metano (às vezes citado como "biometano") atualmente liberado à atmosfera em aterros sanitários, "lixões" clandestinos e estações de tratamento de efluentes, não seria inadequado considerar o aproveitamento do mesmo para fins energéticos. Ao invés de importar gás da Bolívia para atender aos táxis de Porto Alegre, por exemplo, não me parece inadequado aproveitar a ampliação da capacidade de tratamento de esgotos proporcionada pelo atual Projeto Integrado Socioambiental (PISA) para ao menos considerar o uso de um subproduto que viria a ser descartado precariamente como se não pudesse ter algum valor agregado.
Aos que hoje "condenam moralmente" o setor sucroalcooleiro pela prioridade que o etanol vem recebendo em detrimento ao açúcar, ou o uso da soja para produção de biodiesel, sugiro que reflitam sobre o atual desperdício de outras fontes de energia, incluindo o biometano, e sobre a falta de assistência técnica para que produtores rurais em áreas degradadas da Caatinga e do Cerrado possam desenvolver o cultivo de variedades mais direcionadas a fins energéticos como a mamona, o pinhão-manso e a macaúba, antes de tentar
2 comentários:
Show
Produtor rural não tem descanso nesse país, não importa se é latifundiário, sitiante, ou peão de fazenda. Seria até engraçado se não fosse triste ver aquele bando de natureba da cidade que não planta nem o próprio pé de maconha ficar dizendo que a agricultura comercial é a culpada pela fome no mundo.
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