Ontem durante a noite o primogênito do empresário Eike Batista, Thor Batista, acabou atropelando um ciclista num trecho da Rodovia Washington Luiz (BR-040) que passa num subúrbio do Rio de Janeiro, ao volante da Mercedes-Benz SLR McLaren que o empresário tinha o hábito de guardar na sala de estar da mansão onde mora. Infelizmente o sensacionalismo da mídia e o falso moralismo do povão já fazem o caso tomar outra proporção, e não faltam julgamentos preconceituosos. Sempre se ouve aquela velha história de que "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco", que os rigores da lei são aplicados com mais firmeza contra os pobres, mas por uma questão de bom senso esse discurso "coitadista" não deve ser usado como "justificativa" para demonizar o filho do empresário apenas por ser rico.
Ao contrário do ex-deputado paranaense que encheu o rabo de vinho e matou os 2 ocupantes de um Honda Fit ao colidir a 180km/h numa via urbana ao volante de um Passat, Thor chegou a fazer o teste do bafômetro logo após o acidente e não foi reprovado, além de ter providenciado para que fosse prestado socorro ao ciclista, que estava atravessando uma rodovia com a bicicleta à noite em condições péssimas de visibilidade, o que já acaba sendo um fator de extremo risco para um acidente.
Por mais que seja um veículo tecnicamente simples, uma bicicleta exige alguma responsabilidade na condução da mesma forma que os veículos automotores. Eu mesmo, apesar de ser um ciclista experiente e sempre ter zelado pela minha própria segurança ao conduzir bicicletas, já presenciei muitos atropelamentos de outros ciclistas. Num dos casos, numa sexta-feira do já longínquo ano de 2004, a minha mãe estava ao volante de um Corsa 1.0 e acabou por atropelar um moleque que com uma bicicleta subitamente se lançou à travessia do leito carroçável de uma rua pouco movimentada com calçamento de paralelepípedo, transversal a outra de grande movimento com calçamento asfáltico, e pouca visibilidade na esquina devido à calçada muito estreita, sem se certificar das condições do trânsito. O moleque, que casualmente estudava no mesmo colégio que eu à época, teve sorte que as irregularidades no calçamento daquela rua dificultavam velocidades superiores a 30km/h além da leve aclividade ter facilitado a desaceleração, saindo rapidamente e sem nenhuma escoriação, e na segunda-feira seguinte confessou que tinha aprendido uma boa lição com o susto...
Não é difícil ver os inconvenientes "cicloativistas" fazerem discursos exaltando um falso discurso a favor de "humanizar" o trânsito, mas na prática a vida do peão que morreu no acidente já está começando a receber um preço tal qual um simples pedaço de carne no açougue mediante especulações sobre o valor de uma eventual indenização. Ou seja, para os bicicleteiros hipsters, toda aquela hipocrisia "anti-consumismo" só vale quando o dinheiro está na mão dos outros...
Assim como no "caso Black Bull", a inveja falou mais alto que o bom senso. Ainda que a assessoria de imprensa de Thor tenha emitido nota oficial relatando que ele conduzia dentro do limite de velocidade, não custa lembrar que mesmo um simples carro 1.0 pode alcançar velocidades superiores ao limite das rodovias brasileiras, além dos inúmeros "sucatões" caindo aos pedaços cujos proprietários muitas vezes gastam mais com pinga no boteco da esquina que com a devida manutenção preventiva.
Vale lembrar que alguns fatores poderiam ter diminuído ou eventualmente zerado o risco que culminou com o acidente, como o uso de sinalização luminosa na bicicleta (ou mesmo refletores do tipo olho-de-gato), que poderiam facilitar para que Thor pudesse ver o ciclista a uma distância maior e assim tivesse tempo de reagir à situação de risco, ou então uma adequação da infra-estrutura viária mediante instalação de uma passarela, mas aí deveria ser responsabilidade desse governo que cobra uma carga tributária obscena mas dá um retorno praticamente nulo ao cidadão.
Logo, por mais que seja fácil demais levantar acusações exacerbadas por inveja e falso moralismo, não se deve desconsiderar a responsabilidade de outros envolvidos no polemizado acidente.
5 comentários:
Vão ganhar uns 18 mil de indenização,no minimo acham que só porque ele é filho do oitavo cara mais rico do mundo que vai conseguir toda a fortuna deles!
Só com o custo da "reconstituição" do cadáver já foram uns $8000. Mas eu duvido que os parentes do peão sosseguem com menos de meio milhão...
Se fosse um zé ruela qualquer num carro velho capenga que tivesse atropelado o miserável não dava nada, no máximo apareceria uma nota de rodapé na última página do Extra.
Exato. Vale destacar que esse trecho já acumula mais acidentes com bicicletas, mas isso só veio à tona agora.
Inveja é foda, mas eu duvido que algum dos anti-Thors que apareceram de uma hora para outra tivessem a dignidade de mandar uma cesta básica que fosse para ajudar a família do morto.
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