Enaltecidos como grandes vedetes da "mobilidade sustentável", os carros elétricos são vistos com receio por uma parte considerável do mercado, dificultando a concorrência com modelos de concepção mais tradicional.
A baixa autonomia e a demora para recarregar as baterias são constantemente apontadas como os maiores empecilhos para o usuário, contribuindo para afastar a imagem de praticidade e eficiência que fãs e marqueteiros costumam declarar. Também despertam polêmica as tendências de design muito diferenciadas que norteiam modelos recentes, levando a uma forte rejeição por consumidores de gosto mais conservador.
Nesse aspecto, vale destacar o Nissan LEAF: o modelo compartilha a plataforma com o Nissan Tiida, que chegou a ser usado até mesmo como mula de testes para o conjunto propulsor elétrico.
O design mais austero tende a ser menos controverso, embora possa ser considerado empobrecido. No entanto, por proporcionar uma maior simplicidade aos processos de estamparia acaba por demandar menos gasto de energia durante a produção, e não impede que sejam feitos tratamentos aerodinâmicos sem levar a um aspecto de nave do ET de Varginha como acontece no LEAF...
Para fugir à imagem de rusticidade, desempenho irrisório e eventual desconforto, limitando o veículo elétrico a aplicações meramente utilitárias em ambiente fechado, níveis de sofisticação até certo ponto desnecessário foram atingidos. Controladores eletrônicos digitais, mais sensíveis e de maior valor agregado, foram ganhando espaço quando outros mais simples e analógicos podem desempenhar a mesma função com uma relação custo-benefício favorável e maior facilidade na reciclagem dos componentes ao atingirem o final da vida útil, contradizendo vantagens ecológicas constantemente atribuídas por fãs da tração elétrica.
Também levanta dúvidas a questão referente às baterias: há uma grande quantidade de compostos químicos altamente reativos nas mesmas, aumentando os riscos de acidentes caso o descarte não siga protocolos rigorosos de segurança. Apresentam ainda alto custo de aquisição, para o qual a alternativa de alugá-las é considerada viável para reduzir o preço do veículo. No entanto, um valor mensal a mais acaba pondo em xeque a questão do menor custo operacional constantemente apontada como vantagem numa tentativa de quebrar a resistência de um público mais conservador.
Logo, ainda é possível sustentar argumentos defendendo tanto a viabilidade econômica quanto o aspecto ecológico de um automóvel tradicional, mesmo dotado de uma tecnologia mais vetusta, especialmente ao considerar a possibilidade de adaptar ao uso de biocombustíveis...
Ironicamente, algumas lições também podem ser aprendidas com os carros esportivos, às vezes apontados como "ecologicamente incorretos". O volume mais compacto de um motor elétrico poderia ser útil para promover uma aerodinâmica mais apurada, contribuindo para um incremento à autonomia em percursos com velocidade média mais elevada. A menor dissipação de energia na forma de calor promovida por motores elétricos em comparação com um motor de combustão interna também facilita o uso de materiais alternativos mais leves, que tem a resistência em aplicações estruturais comprometida ao enfrentar altas temperaturas. Também viabiliza, assim, o uso de uma maior variedade de adesivos de contato, mais simples, baratos e rápidos de aplicar que soldas e rebites, sem comprometer a robustez.
Outra lição a considerar envolve a racionalização da plataforma de carga: a meu ver os hub-motors, montados junto ao cubo das rodas e por conseguinte aproveitando um espaço "morto", são uma boa alternativa em comparação com um motor elétrico montado em posição convencional, por liberar um maior volume a ser aproveitado num compartimento de bagagens secundário ou até mesmo para carregar um pneu sobressalente, cuja ausência ainda é fortemente sentida por muitos potenciais consumidores mesmo com a presença de um kit de reparo rápido para pneus furados, muito usado para fins de redução de peso.
Ou então, a disposição mais compacta do grupo propulsor permitiria a algum modelo de porte menos avantajado, como o Nissan March, conservar capacidade de carga e passageiros comparável ao Nissan LEAF em um conjunto mais compacto e leve, o que também favoreceria a eficiência energética. Também seria possível proporcionar, por meio dessa medida, uma redução no custo de aquisição do modelo elétrico...
Considerando que hoje há motores elétricos compactos o suficiente para serem acoplados junto ao volante de um motor a combustão interna para montagem num híbrido, o impacto da adoção de hub-motors sobre o peso do veículo não representa um transtorno tão severo, principalmente ao considerar a eliminação do diferencial, semi-eixos de transmissão e respectivas perdas de potência por atrito tomando por referência novamente o Nissan LEAF. Montando os hub-motors nas rodas traseiras, para que estas passem a assumir a função tracionária em oposição à presença maciça da tração dianteira, também ganha-se em controle de tração devido à maior proximidade do eixo motriz ao centro de massa do veículo, representado pelas pesadas baterias, sem impor um maior esforço ao sistema de direção em função do incremento à massa não-suspensa provocado pelos hub-motors. E a ausência de semi-eixos de transmissão limitando o esterçamento da direção favoreceria a manobrabilidade em espaços confinados, devido à redução do diâmetro de giro, tornando-o ainda mais adequado à operação em ambiente urbano.
Logo, antes que algum fanático pela tração elétrica insista em apontá-la como um "milagre" para solucionar alguns dilemas da engenharia automotiva, convém lembrar que tal sistema é muitas vezes supervalorizado e eventuais artifícios para incrementar a eficiência do mesmo e fazer com que a dirigibilidade de um veículo elétrico seja mais agradável a um consumidor mais tradicional são equivocadamente ignorados pelos departamentos de engenharia...
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