quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ambulâncias: difícil definir a melhor "receita"

É muito difícil apontar as especificações técnicas "perfeitas" para uma ambulância, devido à grande complexidade dos diversos cenários operacionais. Por exemplo, pode não adiantar nada ter a manobrabilidade de um modelo leve como o Fiat Doblò, muito popular para transporte de pacientes eletivos e simples remoção, se não puder dispor de alguns recursos normalmente aplicados apenas a veículos de maior porte, como o Fiat Ducato, apto até à função de UTI-móvel.
No caso do Ducato, que mesmo em versões de teto baixo e entre-eixos curto já é adequado até mesmo a dispor de equipamentos para suporte vital, tanto básico quanto avançado, há ainda variações com entre-eixos mais amplo e uma elevação no teto, permitindo à equipe de socorristas permanecer de pé quando necessário. Tal variação é bastante usada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). No entanto, está mais sujeita à aceleração lateral durante os deslocamentos para atender aos chamados, e além de ser mais pesada gera um maior arrasto aerodinâmico em função da área frontal mais extensa, diminuindo um pouco a velocidade máxima. Vale destacar que, ao contrário do que muitos imaginam, mesmo que seja preferível ir o mais rápido possível para atender ao chamado. nem sempre o motorista pode exagerar na velocidade com um paciente a bordo de uma UTI-móvel ou uma semi-intensiva, visto que o veículo já dispõe de equipamentos necessários ao suporte vital, além do risco de prejudicar a estabilização dos sinais vitais com acelerações bruscas, e o agravamento de algumas lesões no caso de pacientes traumáticos.
Considerando também que o entre-eixos longo aumenta o diâmetro de giro, por conseguinte prejudicando a manobrabilidade em espaços mais confinados e no caótico trânsito das principais cidades, torna-se um dilema escolher qual a configuração mais adequada...

Outro aspecto criticamente relevante é o sistema de tração: se por um lado é comum apontar à tração dianteira, como nas Mercedes-Benz MB180D importadas da Espanha durante a década de 90, vantagens como uma melhor estabilidade direcional e redução na altura da plataforma de embarque, além de menores restrições para acertos de suspensão, a tração traseira é muitas vezes considerada mais adequada a serviço pesado em função da robustez do eixo motriz rígido normalmente usado em modelos como a Mercedes-Benz Sprinter, apesar de tal elemento ser considerado por muitos consumidores como um elemento de "carro velho". Vale destacar também que, como não há semi-eixos de transmissão ocupando espaço no eixo dianteiro, há mais espaço livre para um esterçamento mais amplo da direção, proporcionando uma redução no diâmetro de giro.

Também merece destaque o tipo de carroceria: no mercado brasileiro, o mais comum é usar furgões com carroceria integral para a função, apesar de modelos chassi-e-cabine possibilitarem uma maior flexibilidade para a aplicação de carrocerias modulares especificamente projetadas para o serviço de ambulâncias, principalmente em unidades de suporte avançado.
Tal opção é mais popular no exterior, sobretudo nos Estados Unidos e no Canadá, visto que a melhor ergonomia de uma carroceria modular facilita o atendimento a pacientes obesos.
Outra vantagem apontada é a maior eficiência no isolamento termoacústico, bem como na redução do impacto de irregularidades do piso no conforto e estabilidade do paciente mediante um correto dimensionamento dos pontos de ancoragem da carroceria modular ao chassi do modelo a ser usado.

Até mesmo em alguns veículos compactos com estrutura monobloco, como Volkswagen Saveiro e Ford Courier, pode ser aplicada uma carroceria modular por cima da original. Normalmente feitas em fibra de vidro, tem na facilidade de higienização uma grande vantagem, reduzindo riscos de contaminação por bactérias.

Comparando uma pick-up como a Chevrolet Montana com as station-wagons muito usadas como ambulância até os anos 90, como a Chevrolet Ipanema/Opel Kadett Caravan, a maior versatilidade proporcionada pelas carrocerias modulares é uma grande vantagem.
A possibilidade de contar com uma maior altura na área de atendimento sem depender de alterações no monobloco, como as elevações de teto aplicadas em algumas Ipanemas ambulância, que no entanto mantinham a limitada abertura da tampa traseira para evitar gambiarras alterações precariamente dimensionadas que prejudicassem ainda mais a rigidez torcional do monobloco em contraponto à ampla abertura proporcionada pelas carrocerias modulares para facilitar o embarque.

Outro aspecto a ser levado em conta é a racionalização da plataforma de carga: modelos como a antiga Kia Besta, com o posto de condução avançado sobre o eixo dianteiro, acabam por proporcionar uma melhor relação entre o comprimento total do veículo e o espaço para acomodar paciente, tripulação e equipamentos, assim permitindo a um modelo menor que tenha a aptidão necessária ao serviço, trazendo ganhos à manobrabilidade e melhorando a agilidade no atendimento em ambiente urbano em comparação com um modelo de cabine recuada como a Chevrolet Silverado.

Até mesmo a vetusta Volkswagen Kombi, apesar do motor traseiro gerar um inconveniente "calombo" que ocupa espaço e aumenta a altura da plataforma de embarque do paciente na maca, acaba apresentando-se mais racional sob a relação entre as dimensões externas e o espaço interno do que muitos modelos de projeto mais recente, como o Volkswagen Polo Van que foi importado da Argentina entre 1999 e 2002.

Convém recordar, também, a distribuição de peso mais concentrada ao redor do eixo motriz tanto com o veículo vazio quanto carregado, o que ainda a torna mais apta a enfrentar terrenos inóspitos em comparação com os furgões modernos. Tal disposição para o uso fora-de-estrada é superada apenas por veículos especializados, mas com menor aproveitamento de espaço, rodar mais duro e preço mais elevado, como o Land Rover Defender...

Vale destacar também a suspensão independente nas 4 rodas, benéfica em função do conforto superior, enquanto concorrentes mais atuais como a Ford Transit dispõem de suspensão independente apenas no eixo dianteiro.

Na prática, considerando todos os aspectos envolvidos, quando se fala em ambulâncias é difícil falar em perfeição...

2 comentários:

Anônimo disse...

Se não fosse pela altura dificultar o embarque da maca, a Kombi seria a melhor plataforma para se fazer uma ambulância por causa da suspensão independente e da tração em piso de terra.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Só lamento que a 3ª geração da Transporter (Kombi) européia nunca tenha chegado oficialmente ao mercado brasileiro.

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